Salas de consumo assistido abrem em Lisboa até ao início de 2019

​Avenida de Ceuta e Lumiar irão receber as salas de consumo assistido a implementar pela Câmara Municipal de Lisboa até ao Inicio de 2019. O anúncio foi feito no dia 19 de abril, durante a sessão de Apresentação dos diagnósticos sobre consumos de substâncias psicoativas na cidade de Lisboa e respostas a implementar. "Um dia com um significado particular porque damos um passo decisivo numa estratégia humanista que tem tudo para dar certo", afirmou o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

São cerca de 1400 os consumidores de drogas identificados em Lisboa que podem vir a beneficiar das três salas de consumo assistido que a autarquia pretende implementar como projetos-piloto até ao final do ano


A par dos dois equipamentos fixos que ficarão instalados na zona do Vale de Alcântara, e numa zona não habitacional junto do eixo norte-sul na freguesia do Lumiar, uma unidade móvel irá percorrer a “zona oriental e central” da cidade.

Para Fernando Medina o consumo vigiado surge como uma resposta da cidade e um avanço numa estratégia, iniciada há quase 20 anos, que se provou " ser bem sucedida".

Um estratégia que, diz o autarca, contribui para uma mudança de paradigma, o consumidor de substancias psicoativas "passou a ser visto como um ser humano que necessita de apoio e não como um criminoso".

O presidente da CML apontou como principais benefícios o reforço da ligação do individuo às estruturas sociais, " o programa assegura um resposta integral do ponto de vista do processo sucessivo de aproximação à sociedade", e por outro lado, reforça a confiança das comunidades no que toca à melhoria das condições de saúde pública.

Os locais foram escolhidos em função das preocupações das populações relativamente aos consumos existentes na via pública, junto a escolas, parques infantis e zonas de lazer avançou Vereador dos Direitos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, Ricardo Robles

Nas salas de consumo assistido, a Câmara quer implementar programas de consumo vigiado, que pretendem ser estruturas com profissionais de cuidados de saúde e psicossociais onde os utilizadores de substâncias psicoativas (SPA) podem usar as substâncias – injetadas ou fumadas - em melhores condições de higiene e de forma menos lesiva para a sua saúde, e onde se promove o acesso a cuidados de saúde e apoio psicossocial mais diferenciados.

Mais de 1400 consumidores identificados

O relatório apresentado hoje na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa revela as conclusões dos “diagnósticos sobre consumos de substâncias psicoativas na cidade de Lisboa e respostas a implementar”, feitos pela Associação Crescer, Associação Ares do Pinhal, o Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT) e os Médicos do Mundo.

O diagnóstico incluiu uma consulta às Juntas de Freguesia, forças de segurança, moradores e parceiros que fazem trabalho nesta área.

Lisboa identificou 1.400 consumidores de droga na capital “em maior risco”, mas alerta para a existência de mais toxicodependentes que não tenham contacto com as equipas que elaboraram o estudo.

A criação de salas de consumo assistido pretende, segundo o Vereador dos Direitos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, pôr fim ao consumo de drogas a céu aberto na cidade de Lisboa.

"Trata-se de um projeto importantíssimo para a cidade que pretende dar respostas que são necessárias para uma franja de lisboetas que está excluída da cidadania e estes equipamentos surgem para abrir essa porta" adiantou Ricardo Robles.

Na opinião do responsável pelos Direitos Sociais da autarquia, “estes diagnósticos vêm confirmar que há uma necessidade, há um problema” ao qual é necessário responder, “não só do ponto de vista da saúde, mas também do ponto de vista social”.

Como tal os espaços que irão permitir cuidados de higiene, apoio alimentar ou carências de habitação num processo que envolve a comunidade, instituições e administração central.

Inquiridos mostram “interesse” nos programas de consumo vigiado

O estudo mostra uma população “envelhecida, a larga maioria com idade superior a 40 anos, e que apresenta do ponto de vista social um perfil de pobreza e exclusão social”, sendo que são pessoas “em situação de habitação precária (sem-abrigo, em instituição de acolhimento, casa abandonada ou sem condições) ”.

Quanto ao padrão de consumo, as equipas verificaram “que a maioria são consumidores diários ou regulares, sendo ainda significativa a percentagem dos que referem partilhar material de consumo, o que possivelmente também está relacionado com as condições e contextos em que esse consumo é realizado”. A maioria refere consumir em espaço público e sem condições de higiene e segurança: na rua, casas de banho públicas, descampados, prédios abandonados”, que, de acordo com o estudo, “do ponto de vista da saúde, é uma população que apresenta elevadas prevalências para hepatite C, VIH e hepatite B, e baixos índices de tratamento destas infeções”.

De acordo com os resultados do diagnóstico, feito entre setembro do ano passado e janeiro deste ano, “quase todos” os inquiridos “afirmaram estar interessados em utilizar este tipo de resposta por razões de higiene, privacidade (para evitar o uso em espaços públicos) e de segurança (para evitar overdoses fatais, partilha de material ou violência associada ao contexto de uso) ”.

O documento ressalva ainda que “as percentagens [de aceitabilidade das salas] variam ligeiramente consoante a zona da cidade” e que “um número residual não quer consumir por não sentir essa necessidade ou por sentir vergonha em consumir perto de um técnico”.

Os inquiridos mostraram também “interesse em ter nos programas de consumo vigiado condições para realizar a sua higiene, apoio na procura de emprego e cuidados de saúde”.

(Texto/Foto - CML)